Salar de Uyuni e Deserto do Atacama
Como surgiu a vontade de conhecer o Salar de Uyuni? Um belo dia, antes de começar todas essas viagens, eu estava olhando no Google Maps a América Latina, de repente, vi uma mancha branca gigantesca no meio da Bolívia. Fiquei encucada com aquilo e fui pesquisar. Jurava que era um platô nevado, mas não, depois de segundos de pesquisa no Google, descobri que era, a milhões de anos atrás, um lago salgado que secou e ficou apenas o sal. O Salar de Uyuni tem mais de 100 quilômetros de extensão. E é deslumbrante! Começamos a pesquisar qual seria a melhor época para conhecer o Salar, pois tínhamos a intensão de ir para Machu Pitchu, fazer a Caminhada Inca, descer para Nazca, depois ir até Puno, atravessar o Titicaca, chegar a La Paz, descer até Uyuni, através o Salar e chegar até a fronteira com o Chile, já no Deserto de Atacama, depois de passar pelo Vale dos Vulcões. Só que descobrimos que a melhor época para ir para o Salar era fevereiro, quando chove, o Salar inunda e vira um espelho. Já para fazer a Caminhada Inca a melhor época é final de Agosto início de Setembro, quando não está chovendo, mas também não está fazendo calor de mais. Então decidimos dividir os nossos planos. Viajamos em fevereiro para a Bolívia e no final de agosto fomos para o Peru.
Dia 06/02/2010 – Nós quase chegamos à Bolívia
Quando tiramos a passagem por milhas, não observamos que tínhamos comprado uma passagem que fazia escala em Assunção, no Paraguai. Saímos de Brasília e chegamos a São Paulo no horário, o embarque para La Paz também foi no horário só que ficamos 2 horas dentro do avião com a desculpa que alguns passageiros tinham feito o check-in e teriam desistido do voo e por isso eles tinham que retirar as malas destes passageiros de dentro do avião. Resultado: quando chegamos a Assunção, o voo para La Paz já tinha saído a mais de 1 hora. Ficamos indignados e com a sensação de que atrasaram o nosso voo porque não tinha passageiros suficientes para ir para La Paz (voamos com pouco mais de 20 pessoas dentro do avião) e por isso atrasaram o nosso voo para dar a justificativa de que perdemos a conexão e juntar mais passageiros com o voo do dia seguinte. Fomos para um hotel em Assunção às 3 horas da manhã. Duas vans conseguiram transportar todos os passageiros do voo. Ficamos impressionados porque as malas que eles não conseguiram colocar dentro da van, eles jogaram em cima do teto sem sequer amarrar. Estávamos vendo a hora de quando tudo ia cair no chão. Mas, felizmente, isso não aconteceu. O calor nessa hora já incomodava!
Dia 07/02/2010 – Assunção
Bom, já que estávamos em Assunção, resolvemos conhecer a cidade. A ideia é que nós fossemos conhecer a cidade a pé, pois ela não parecia ser tão grande assim. Chegamos a pedir um mapa na recepção do hotel. Quando demos dois passos para fora do hotel, sentimos o mormaço: devia estar fazendo uns 38 graus a sombra! Voltamos para dentro do hotel e o recepcionista nos indicou um taxista para fazer um tour conosco: USD 25 para cada um, em um carro com ar condicionado. Como era isso ou ficar dentro do hotel o resto
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Mausoléu de Solano Lopes |
do dia, decidimos fazer o tour. Há poucas coisas para se ver em Assunção. Fomos ao Mausoléu de Solano Lopez e a sede do Governo. São as únicas duas construções dignas de algum comentário. As duas em estilo espanhol. Fomos ainda à estação de trem, já abandonada, mas não entramos porque ainda estava fechada para visitação. Visitamos um monumento, no alto de um morro de onde víamos a margem argentina e também tinhamos uma vista da cidade. A cidade é muito pobre: há pessoas pedindo esmola por todos os cantos, principalmente crianças. A favela é vizinha da sede do governo. O taxista nos levou a região mais nobre de Assunção, um setor da cidade cheio de lotes, uns construídos com casas boas e vários outros vazios. Perguntamos o preço de um lote ali e ele nos disse que era caríssimo. Insistimos e ele nos disse que custava algo em torno de USD 60.000. Ficamos pensando que se ele viesse em Brasília e visse o preço das coisas aqui, ele teria um infarto. No
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Palácio do Governo |
final do passeio, ele nos levou ao melhor shopping da cidade. Um prédio com 4 andares com algo em torno de 20 a 30 lojas nos três primeiros andares e uma Falabella ocupando o último andar inteiro. Comemos empanadas no primeiro andar (estavam uma delícia) e pela primeira vez vi O Boticário fora do Brasil. Comprei uma sapatilha na loja da Puma e em 1 hora andamos o shopping inteiro. O taxista também tinha nos indicado outro shopping, só que menor, do outro lado da rua. Fomos lá e sinceramente, foi um tempo perdido. O lugar parecia uma feira, só que em andares. Em vez dos feirantes usarem o espaço das lojas para organizar os produtos, eles colocavam os produtos no corredor do shopping. Ficava até difícil de circular. Depois fomos a uma praça próxima e acabei comprando um par de brinco de prata por USD 20. E é prata legitima, pois nunca tive alergia a estes brincos. Depois, passamos à tarde no hotel e já à noite fomos para o aeroporto. No dia anterior, quando chegamos, não tinhamos observado direito o lugar. O aeroporto não tem movimentação nenhuma. Os guichês só são abertos quando há voos. Depois que fizemos o check-in, ficamos aproximadamente 1 hora esperando a alfândega abrir para podermos entrar na sala de embarque. Chegamos a La Paz quase às 3 horas da manhã, no aeroporto de El Alto, a mais ou menos 4000 metros de altitude e descemos para La Paz, a uns 3500 metros.
Dia 08/02/2010 – La Paz – Tiwanaku
Hospedamo-nos em La Paz no Hotel Rosário. E embora a pobreza da região em que ficamos (o hotel fica na região do Mercado Negro e a feira é na rua, os carros têm que disputar com as pessoas o asfalto) o Hotel é excelente. Simples mas extremamente bem cuidado e as pessoas muito solicitas. A indicação é da Lonely Planet e ficamos impressionados com a qualidade. Tomamos café e fomos procurar o que fazer à tarde. No hotel, fomos perguntar sobre o Salar e a agência de turismo, nos informou que devido a chuva, não era possível ir para Uyuni pois boa parte da pista entre La Paz e Uyuni era de terra e estava um lamaçal. Fiquei preocupadíssima. Daqui, fomos para a Rodoviária e a história que escutamos era diferente: as pistas estavam boas, o problema era a iminente greve dos motoristas de ônibus que estava prevista para começar naquele dia depois de uma assembléia que seria realizada durante a tarde. No entanto, só teríamos certeza
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Mapa em pedra de Tiwanaku |
depois de uma assembléia. Quando fomos andar pela cidade, foi quando vimos o quanto é louca a movimentação. Os sinais de transito são apenas sugestivos, ou seja, ninguém respeita. Os pedestres têm que esperar o engarrafamento se formar para conseguir atravessar a rua. Os policiais tentam, quase semsucesso, controlar o transito. Depois, fomos para a rua Sagamaga, onde estão praticamente todas as empresas de turismo e restaurantes da cidade. Conseguimos um tour privado por USD 40 para nós dois para Tiwanaku, uma civilização que viveu na região e também fez parte do Império Inca. Boa parte do
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Templo a céu aberto e Totens |
sitio arqueológico ainda está conservado, tanto que o próprio Evo Morales, presidente da Bolívia, quis ser empossado neste sitio, por ser descendente desta civilização. Há um templo em que há várias cabeças de pedra nas paredes e totens em vários lugares. Há também um portal, o Portal do Sol, que dizem ser o calendário deles, há estudos tentando comprovar essa teoria. Depois de visitar o sitio fomos para o museudo local e ficamos bem impressionados com a variedade de batatas e como eles secavam as
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Portal do Sol |
batatas na época da fartura e as reidratavam na época da escassez, evitando que faltasse alimento para a população. Voltamos para La Paz no final do dia. E durante o retorno, ficamos admirados com a Cordilheira Real no horizonte. Segundo o guia, os antigos acreditavam que a cadeira de quatro montanhas no horizonte eram as quatro maiores montanhas da Cordilheira dos Andes. Só muito depois
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Vista de La Paz |
que descobriram o Aconcágua, quase 1000 metros mais alto que a maior montanha da Cordilheira Real. Chegamos a La Paz já no final do dia e voltamos a Sagamaga para comprar o tour do dia seguinte para o Lago Titicaca. O tour privado, para cada um, ficou em USD 40. Depois, procuramos uma lan house, pois queria entrar em contato com Toñito Tours, empresa que contratamos para fazer o passeio no Salar, para dizer que estávamos em La Paz e que assim que fosse possível iriamos para Uyuni. Quando chegamos ao hotel, tivemos a ótima noticia que os motoristas desistiram da greve. Nossa ida para Uyuni estava quase garantida.
Dia 09/02/2010 – Nossa Senhora de Copacabana e o Lago Titicaca
O ônibus do tour passou por volta de 8h da manhã no nosso hotel. O nosso guia, Marcelo, entrou no nosso
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Engarrafamento em El Alto (La Paz) |
ônibus já na subida para El Alto. Quando chegamos lá, ficamos quase uma hora no engarrafamento. A viagem até Nossa Senhora de Copacabana demorou umas 2 horas. E durante grande parte do percurso, pudemos admirar a Cordilheira Real. Achamos interessante que um pouco antes de chegarmos a Nossa Senhora de Copacabana, tivemos que atravessar um pedaço do Titicaca por balsa. Nos pontos mais altos do trecho, chegamos novamente a mesma altitude de El Alto, 4000 metros. Durante a viagem ficamos até impressionados com a nossa resistência, pois não sentimos absolutamente nada devido à
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Igreja de Nossa Senhora de
Copacabana |
altitude. Chegamos a Nossa Senhora de Copacabana por volta de 11h e fomos direto fazer o tour na Igreja de Nossa Senhora de Copacabana. A igreja é muito grande, muito bem construída e o altar é belíssimo. Nossa Senhora de Copacabana fica em um local com a base giratória, pois durante 4 dias da semana ela fica virada para a Bolívia e durante os outros 3 ela fica virada para o Peru, do outro lado do Titicaca. No dia em que fomos ao Titicaca, ela estava voltada para o Peru. Reza a lenda que todas as vezes que tentaram tirar a santa da igreja, algum desastre natural aconteceu. Sendo assim, nem quando o Papa visitou a Bolívia, tiraram a santa do altar. Almoçamos em um restaurante na Calle
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Altar da Igreja Nossa Senhora de
Copacabana |
Jáuregui e de lá já fomos para o local onde íamos pegar o barco para navegamos no Titicaca e chegar a Ilha do Sol. O percurso era de aproximadamente 20 km, mas demorou uma hora e meia para chegarmos à Ilha do Sol: o barco andava muito devagar! Já na Ilha do Sol, vimos barcos de Totora e uma lhama, que eu nunca tinha visto antes. Tinhamos duas opções: uma caminhada de 40 minutos
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Barcos de Totora no Titicaca |
pela ilha ou ficaríamos aguardando o barco ir para o próximo local de parada, onde a caminhada terminava. Decidimos fazer a caminhada. Segundo o guia, do alto da ilha, pode-se enxergar toda a Cordilheira Real em dias claros e sem névoa. Durante a caminhada, vimos plantações de quinoa e no final, chegamos a um sitio arqueológico e pudemos observar que a população que vivia naquela região era bem baixa, algo em torno de 1,50 m, porque tínhamos que agachar para
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O suposto trono do Imperador Inca |
entrar nos cômodos do sitio. Havia ainda uma pedra em forma de trono. O guia nos disse que a Ilha do Sol era um local de descanso do Imperador Inca que se sentava naquele trono, diante da Cordilheira Real a qual ele acreditava estar diretamente ligado, e recarregava suas energias. A Ilha do Sol era considerada um lugar de festa e alegria, ela foi bem habitada e possui outros sítios arqueológicos ao norte, mas por falta de tempo, não pudemos visitar. Também existe a Ilha da Lua, que segundo eles é um local sombrio, de bruxaria e de almas penadas. Nesta, não fomos. Ficamos na Ilha do Sol 1h30 mais ou menos. Depois pegamos o barco para voltar para Nossa Senhora de Copacabana. Já quase indo embora, o meu marido tirou uma foto de uma senhora e suas vestimentas típicas: um chapéu estilo “Charles
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Típica mulher boliviana |
Chaplin” só que mais alto e pequeno em um canto da cabeça, saia rodada e cheia de anáguas, botas e um chalé, normalmente muito bonito e bem feito. Já havíamos visto várias mulheres vestidas desta forma em La Paz, mas foi a primeira oportunidade que tivemos para tirar uma foto com o consenso dela. Outra coisa que me impressionava lá era como eles enrolavam as crianças em uma manta, colocavam essa manta nas costas e as crianças não caiam e nem reclamavam. Durante o retorno para La Paz, um pouco antes
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Cordilheira Real |
de termos que atravessar o Titicaca de balsa, vi uma das paisagens mais bonitas da minha vida: o ônibus estava descendo uma encosta e o sol já estava se pondo. Então surgiu uma montanha, acredito que da Cordilheira Real, pontiaguda e com o cume totalmente coberto de neve e a base coberta por nuvens. Fiquei encantada com aquela visão. Fiquei louca para o meu marido tirar uma foto daquela paisagem, mas como estávamos em movimento, todas as fotos ficaram tremidas. Foi uma pena! Chegamos a La Paz por volta de 8h30 da noite. Decidimos jantar no hotel e a qualidade dos serviços nos impressionou: o jantar e a sobremesa foram dignos de restaurantes de primeiríssima linha aqui no Brasil. A Bolívia só nos impressionou.
Dia 10/02/2010 – City tour e viagem para Uyuni
A primeira coisa do nosso dia foi comprar a passagem para Uyuni. Mas antes, combinamos no hotel mais meia diária, para quando voltássemos da rua pudéssemos tomar um banho antes de sair. Pesquisamos o preço da passagem e era algo em torno de Bs. 120 (USD 18). Já tínhamos lido na internet que os ônibus da Bolívia não eram grande coisa. Existem três ou quatro empresas de ônibus que fazem o trecho como a Turismo Cruz del Norte e a Panasur. Na Turismo Cruz del Norte, tinha fotos do interior dos ônibus
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Rua Principal de La Paz |
estampadas nas paredes. Pareceu-nos muito boa e então compramos a passagem lá. Depois fomos para a esquina da Sagamaga com a Illampu (perto do nosso hotel), pois lá tem várias lojas de artigos esportivos, inclusive mochilas, item que eu estava precisando desesperadamente. No entanto, as mochilas baratas eram apenas da Doite (não confundam com Deuter, marca alemã reconhecida mundialmente pela qualidade). As mochilas de outras marcas que eram baratas eram falsificadas, perceptível ao analisar a qualidade do material e das costuras. Já as originais de marca conhecidas, como Black Diamont e Columbia, não eram mais baratas que aqui no Brasil. Como não tive outra opção e não pagaria caro por uma mochila que eu não tinha certa se era realmente original, comprei uma mochila da Doite pelo menos para terminar essa viagem. Deixamos a mochila no hotel e fomos andar pela cidade. Fiquei meio enjoada ao passar em frente as lojas que vendiam fetos de llama na porta. Segundo eles, trás sorte para uma casa enterrar um desses bichinhos debaixo de um dos pilares da casa. Mas o cheiro ao passar em frente de uma dessas lojas é
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Fetos de llama expostos para venda |
insuportável. Como era Carnaval, as ruas estavam cheias de pessoas e bandas tocando. O Centro é digno de uma visita, se parece bastante com outras cidades de influência espanhola. E bem mais rico em detalhes e construções que a região do nosso hotel. Já quase no final da tarde, voltamos para o hotel para arrumar nossas coisas e irmos para a rodoviária. Quando fomos pagar a conta, nem acreditamos: três diárias e meia mais o jantar no dia anterior saiu por USD 218. Foi muito barato pela qualidade do serviço! E enquanto estávamos pagando a conta, o porteiro já estava providenciando um taxi para nós. Quando saímos, o taxi já estava nós esperando. Recomendo
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Hotel Rosário |
fortemente o Hotel Rosário em La Paz. Se voltarmos lá um dia, com certeza nós nos hospedaremos lá novamente! Chegamos à rodoviária, despachamos nossas malas e entramos no ônibus, que era uma versão mais antiga do que as fotos que vimos nas paredes da Turismo Cruz del Norte. Mas pensamos que esse seria o único dos nossos problemas. Na realidade, esse foi apenas o primeiro deles! Fazia um calor horrível dentro do ônibus. Minha sorte foi que estava com uma calça que virava short, mas mesmo assim foi difícil aguentar o calor. Chegou em um ponto que ninguém aguentava mais. Estava todo mundo reclamando e o dono da companhia (que viajou conosco até Oruro) de blusa de frio. O meu marido levantou umas duas ou três vezes para pedir para ele ligar o ar condicionado e ele dizia que o pessoal estava reclamando de frio, até que uma pessoa levantou e disse que não, que provavelmente só ele no ônibus inteiro estava sentindo frio. Finalmente, ligaram o ar condicionado. Fui ao banheiro e ele era bem diferente do banheiro da foto. O banheiro era podre! E o dono da companhia ainda teve a capacidade de nos avisar que o banheiro era apenas para urinar e que se houvessem outras necessidades, que era para aguardar até a próxima parada. Depois disso, dormimos.
Dia 11/02/2010 – Uyuni e o Salar
Depois de algumas horas de sono, acordei com o sol nascendo. Quando olhei para o horizonte e vi o deserto de sal, nem acreditei. Foi uma sensação indescritível. Acordei o meu marido na hora! Às 7h, descemos em Uyuni. E já na descida, tinham umas 5 pessoas vendendo o passeio para o Salar e o Vale dos Vulcões. Como já tínhamos entrado em contato com a Toñito Tours, não demos atenção a eles e fomos procurar o Hotel Toñito. Quando conversamos com a Sussy por e-mail, ela havia nos informado que o tour privado, por 2 dias e meio, incluindo alojamento e alimentação seria USD 540. Fomos preparados para pagar isso. Só que quando chegamos lá, ela veio com uma história aquele preço (que inclusive estava no site: http://www.bolivianexpeditions.com/) não era para atravessar o Salar, era para passear por lá e depois pegar uma estrada de terra para chegarmos ao Vale dos Vulcões. Se quiséssemos atravessar o Salar, teríamos
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Salar de Uyuni |
que pagar mais USD 60 cada um. Como já estávamos lá, acabamos pagando a mais. Tivemos direito a meia diária no hotel para tomarmos um banho e o café da manhã antes de começar o tour. O nosso carro era um jipe velho, enquanto que ao passearmos pela cidade vimos diversas Blazers e Land Rovers sendo carregadas para o tour. Fiquei meio decepcionada, pois em diversos lugares que pesquisamos diziam que a Colque Tours e a Toñito Tours eram as melhores empresas de turismo do Salar. Tinhamos entrado em contato com a Colque Tours (http://www.colquetours.com/), só que o meu marido fez
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Salar de Uyuni |
algumas pesquisas sobre a empresa e encontrou pessoas reclamando de motoristas dirigindo bêbados, carros estragando no meio do Salar e os passageiros tendo que dormir sem abrigo e num frio de até -15 graus. Por isso desistimos da Colque Tours. Mas não sei a Toñito Tours foi a melhor opção. Depois que carregamos o carro fomos para Colchani, onde os habitantes da cidade produzem sal comestível e lembranças feitas de sal. Mal passamos por lá pois o meu marido estava louco para ir logo para o Salar. Quando entramos no Salar, ficamos maravilhados! E de óculos escuro o tempo todo. A luz refletindo no sal cegava a visão se não usássemos óculos. O Salar estava completamente inundado e no horizonte era impossível definir o que erachão e o que era céu. Simplesmente deslumbrante. Tiramos algumas fotos e fomos para o Hotel de Sal
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Ilha do Pescado (Incahuasi) |
no meio do Salar. Na realidade, ele é um hotel desativado, as pessoas não se hospedam lá. Há hotéis de sal no Salar, mas não recomendam a hospedagem nestes hotéis para evitar a extração indevida de sal na região. O hotel tinha várias esculturas feitas em sal e até mesas com cadeiras. Lá, tudo é feito de sal, paredes, janelas, móveis... Depois, fomos para a ilha Incahuasi, também conhecida como Ilha Pescado. Pagamos Bs. 15 (USD 2) para andar pela ilha. Na ilha há uma floresta de cactos. Eles contam que o cactos cresce 1 cm por ano. Havia um cacto com 12 metros, ou seja, 1200 anos. No entanto, este morreu há pouco tempo. Mas existem outros cactos com 900 anos ainda na ilha. Lá na ilha há um mapa do salar em pedra, que eu achei muito interessante. Almoçamos aqui e a comida
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Mapa em pedra do Salar de Uyuni |
estava deliciosa, feita pela nossa cozinheira. Tiramos algumas fotos, admiramos a paisagem e depois fomos para o hostel. Quando chegamos lá, por volta de 17h, a dona do hostel não estava. Segundo o filho dela, como fazia alguns dias que ninguém se hospedava lá por não ser possível atravessa o salar devido à inundação, ela tinha ido para a cidade e ele estava sem a chave. Então o nosso motorista quebrou o cadeado da porta do hostel para podermos nos hospedar. Só que não tinha água quente, e eu que não vivo sem água quente, já achei ruim. Tomamos o café da tarde, descansamos um pouco e depois jantamos. A comida estava ótima! Depois nosso motorista, sr. Geraldo, nos passou um overview do dia seguinte, se desculpou pela situação de ter que arrombar o local para nos hospedar e nos prometeu que o dia seguinte seria melhor. Não achei o lugar tão ruim assim, só senti falta da água quente. Depois, fomos dormir.
Dia 12/02/2010 – O Vale dos Vulcões
Quando nós pesquisamos o tour, estávamos interessados apenas no Salar, o Vale dos Vulcões não era o nosso objetivo. Mas ao começarmos essa parte do tour, ficamos maravilhados com a beleza do lugar. Tomamos café e partimos. Já a poucos quilômetros do hostel, avistamos vicuñas, parecidas com lhamas, mas com pouco pelo. Há vulcões extintos por toda a região e é difícil não reconhecer a formação em cone. Parece que todos os morros e montanhas do local, um dia foram vulcões. Nossa primeira parada foi em San Juan, para irmos ao banheiro e comprar suprimentos. Depois paramos no Vulcão Ollangue, um dos únicos vulcões em atividade na região. Ainda é possível ver a “fumarola” saindo de um dos lados do vulcão. Daqui fomos para as lagunas no meio dos vulcões. A primeira e uma das maiores era a laguna Hedionda, cheia de
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Laguna Hedionda |
Flamingos rosa. A laguna é rasa e eles passam o tempo todo procurando comida. Nesta a coloração branca é predominante devido a grande quantidade de magnésio presente na água. Depois fomos para a laguna Chiar Cota, de coloração amarela devido a grande quantidade de enxofre. Lá há uma pequena infra-estrutura, com um restaurante vendendo bebidas e banheiro ecológico, que poderia ser usado por Bs. 5 (USD 0,8). Foi onde almoçamos e novamente estava delicioso. Ainda é possível ver nos vulcões extintos da região onde a lava escorria, as marcas ainda são bem evidentes. Daqui, fomos em direção a Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa. Saimos da região montanhosa e entramos num deserto. Como nosso guia
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Flamingo na Laguna Chiar Cota |
tinha muita experiência, ele conseguia dirigir sem problemas, eu só conseguiria andar lá com um GPS. Já na entrada do parque há um vulcão com uma marca redonda na sua formação. Acredita-se que aquela marca foi feita pelo impacto de um meteoro. Daqui, fomos para o “Arbol de Piedra”. Uma formação rochosa mais larga no topo e mais estreita na base. O meu marido, ex-escalador, já ficou doido para subir nas pedras do lugar. Eu me contentei em ficar olhando ele se divertir. Neste local, ficou até difícil tirar fotos, pois tinha muita gente lá de outros tours. Daqui, fomos para a tão famosa Laguna Colorada. Tinhamos visto fotos do lugar no hotel em La Paz e ficamos impressionados com as manchas vermelhas da laguna. Dizem que elas são formadas por microrganismos que habitam o local. A taxa de entrada no parque Eduardo Avaroa é
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Entrada do Parque Eduardo Avaroa |
paga praticamente as margens da Laguna Colorada, Bs. 150 (USD 20) por pessoa. As margens da laguna há um mirador e fomos para lá. Que decepção! A tal Laguna Colorada parecia mais uma lamaçal e as manchas vermelhas que tínhamos visto na foto praticamente inexistiam. Fora que estava ventando e fazendo frio. Depois descobrimos que há épocas do ano que ela fica da forma que vimos na foto e quando fomos não era uma dessas épocas. Voltamos para o hostel, que segundo o nosso motorista/guia era o melhor do vilarejo.
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Arbol de Piedra |
Quando fomos ao banheiro, nada de chuveiro. O meu marido foi conversar com o sr. Geraldo e ele nos disse que realmente não havia chuveiro e para se dar descarga, tínhamos que jogar um balde de água dentro do vaso. Fiqueiindignada, afinal, ele havia nos dito que neste dia a hospedagem seria melhor. Assim, não acreditei que lá era o melhor lugar para ficarmos. Havia algumas construções da empresa de energia elétrica da Bolívia e podíamos ver os banheiros, inclusive com aquecedores, pela janela. Minha principal preocupação era tomar banho, então meus olhos brilharam quando vi os banheiros. Só que não havia absolutamente ninguém lá. Havia outros hostels no local e entramos para olhar. Pareciam mais prisões, os quartos não tinham janelas. Tive que dar o braço a torcer: o sr. Geraldo tinha razão, naquele local o nosso hostel era o melhor. Queriamos carregar nossas câmeras, só que a corrente no hostel era contínua e nossos equipamentos
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Laguna Colorada |
precisavam de corrente alternada. Conversamos com o sr. Geraldo e ele nos disse que os donos do hostel cobravam Bs. 5 para carregar equipamento. Quando fomos carregar as câmeras, perguntei por que não havia chuveiros. A menina que nos atendeu nos disse que normalmente os turistas gastam muita água e não sobra para as pessoas que moram lá. Sendo assim, eu até compreendi a situação. Mas para completar, chegou um grupo de argentinos que foram na laguna, sujaram as botas e fizeram o favor de lavar as botas no tonel de água que existia no banheiro para dar descarga e escovar os dentes. Além disso, tivemos que passar a noite em alerta, pois o grupo deles era de uns 15 jovens que se achavam no direito de invadir todos os quartos, inclusive o nosso. Acabamos tendo que escorar uma das camas do nosso quarto na porta (porque a porta não tinha chave) para manter a nossa privacidade. Essa noite foi meio tensa!
Dia 13/02/2010 – Vale dos Vulcões e São Pedro de Atacama
Acordamos as 3h30 da manhã porque tínhamos que partir às 4h. Segundo o nosso guia, os geisers ficam mais ativos antes do amanhecer. Nesta rota chegamos a mais de 5000 metros
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Geiser Sol de la Mañana |
de altitude. E realmente, quando chegamos no “Sol de Mañana”, o conjunto de geisers estavam em plena atividade. A água borbulha dentro das crateras. Mas quando o sol começou a nascer a quantidade de fumaça que saia dos geisers e a força com que a água borbulhava começou a diminuir. No caminho, já em direção a fronteira com o Chile, paramos em um local que dizem que quando o sol já está um pouco alto e a luz bate nas pedras, ele se parece com um quadro de Salvador Dali. Tanto que o local se chama “Piedras de Dali”.
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Montanha de várias cores em frente
as "Piedras de Dali" |
Logo em frente, há uma montanha na qual a cor dela varia de branco até marrom em diversas tonalidades distintas. Existem alguns termas durante o percurso. Há um mais famoso, os Termas de Polques, que fica lotado quando o sol amanhece. No entanto, nosso guia preferiu nos levar em um mais isolado, já perto do Vulcão Lincancabur e da Laguna Verde. O meu marido ficou deslumbrado, em meio aos vulcões, só nós dois nadando
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Termas no Vale dos Vulcões |
em uma piscina termal. Realmente, foi muito legal e até mesmo surreal. Ficamos mais ou menos 1 hora. Depois fomos tomar café e o nosso motorista e nossa cozinheira foram também aproveitar a piscina termal. Depois fomos visitar a Laguna Verde. Na hora que chegamos, ela não estava verde, a água estava meio marrom. No entanto, à medida que o tempo foi passando, manchas verdes começaram a aparecer. A grande presença de cobre na laguna é que produz esse efeito. Dizem que por
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Vulcão Lincancabur e a
Laguna Verde |
volta de 11h da manhã, ela fica completamente verde por causa do efeito dos raios solares sobre o cobre. Daqui, fomos a fronteira com o Chile. Acredito que porque reclamamos a falta de água quente no primeiro e pela falta de chuveiro no segundo, o sr. Geraldo ficou chateado com a gente. Tanto que mal se despediu da gente. Tirou nossas mochilas de dentro do carro, entregou o voucher (que eram da Colque Tours), deu um tchau seco e foi embora. Nem acreditei! Mas paciência. O pessoal da fronteira carimbou os nossos passaportes e depois fomos para junto do ônibus que nos levaria até São Pedro de Atacama. Eles entulharam as mochilas dos passageiros em um espaço no final do ônibus e depois pediram para todo mundo entrar. Da fronteira até São Pedro, o trecho é de aproximadamente 40 minutos, mas a descida é tão íngreme que exitem zonas de escape com britas em curvas mais fechadas. Descemos neste período, aproximadamente 1000 metros. É gritante a diferença entre o Chile e a Bolívia. Sabiamos quando entramos no Chile pela perfeição do asfalto. Eu pensei: “Finalmente, civilização!”. Ficamos aproximadamente 1h30 na imigração. Você paga a taxa de entrada no país, eles carimbam o seu passaporte e depois eles passam a sua mala no Raio-X. Não é permitido entrar com líquidos e nem alimentos que contenham sementes no Chile. Quando todos os passageiros já tinham feito a imigração, as mochilas foram colocadas novamente no ônibus e eles nos deixaram no centro da cidade. Como não sabíamos quando chegaríamos em São Pedro de Atacama, não fizemos reserva. Era Carnaval e não havia vagas nos hostels da cidade. Depois de muito andar, o único local que encontramos foi o Hotel Kimal (http://www.kimal.cl/). Pagamos USD 165. O Hotel na realidade é uma vila cheia de cabanas e cada cabana é um quarto. Embora tenha sido caro, gostamos bastante. Almoçamos no restaurante do próprio hotel, tomamos um banho (finalmente!) e depois fomos conhecer a cidade. São Pedro de Atacama é uma gracinha! Não tem asfalto na cidade, mas as pistas são arrumadas e não há buracos. Todas as casas são
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San Pedro de Atacama |
pintadas de branco e na praça principal da cidade é onde fica a igreja e o museu. O museu é digno de uma visita. A estrutura dos tours no Chile é mil vezes melhor que a estrutura da Bolívia, mas você também tem que pagar por isso. Qualquer tour lá era em torno de USD 300. Não olhamos o preço do tour que fizemos, principalmente sendo privado, mas tenho certeza que não deve ser menos de USD 1000 por pessoa. Em compensação acredito que não teriamos ficado 3 dias sem tomar banho e com certeza o carro seria mais conservado (com menos probabilidade de dar problema) e também teria ar condicionado (que faz diferença no calor de 45 graus do deserto). À tarde, fomos procurar onde compraríamos as passagens para Calama. La não há rodoviária, há uma parada de ônibus a algumas quadras da praça principal de onde saem os ônibus. Já no final do dia, uma nuvem se aproximou no vulcão Lincancabur (que é enorme visto do Chile) e começou a lançar raios sobre o vulcão. Fiquei impressionada com aquilo e que mais tarde, já a noite, até sonhei que vulcão estava entrando em erupção. Foi um espetáculo a parte. Jantamos em um dos restaurantes da cidade e voltamos para o hotel.
Dia 14/02/2010 – São Pedro de Atacama e Calama
Comi alguma coisa que me fez muito mal no dia anterior. Mal conseguia ficar em pé. O meu marido ficou super preocupado e pediu no hotel para ligarem no hospital. Ninguém atendeu. Acho que o hospital lá não funciona no final de semana. E aparentemente, não há farmácias na cidade. Já eram quase 11h, então tentamos dar umas voltas pela cidade para ver se eu melhorava, mas todos os banquinhos que apareciam eu tinha que me sentar. Decidimos almoçar, mal consegui comer. Voltamos para o hotel, pegamos nossas coisas e fomos para a parada de ônibus de taxi. O percurso entre São Pedro e Calama é de umas 2h. Chegamos a Calama no final do dia e eu já estava me sentindo melhor. Calama é uma cidade de mineradores e todas as casas são sobrados iguais e muito bem feitos. Aparentemente, o governo construiu estas casa para eles quando começaram a trabalhar lá. Ficamos em Calama no hotel Água Del Desierto. Por dentro ele é realmente muito bom, mas a conservação do hotel por fora deixa muito a desejar. A piscina por exemplo, na época que fomos, estava destruída. Combinamos com o taxista que nos trouxe ao hotel para nos levar ao aeroporto no dia seguinte pela manhã. Jantamos no hotel e fomos dormir.
Dia 15/02/2010 – Calama, Santiago e Brasil
Último dia da nossa viagem. O taxista nos levou logo cedo para o aeroporto, pois nosso vôo era às 8h. Quando chegamos lá, tivemos uma surpresa: o vôo estava atrasado e a previsão de decolagem era às 9h. No final, o vôo das 10h saiu antes da gente. Chegamos a Santiago por volta de 12h e o nosso vôo para o Brasil era 13h20. Corremos pelo aeroporto que nem loucos e quando chegamos ao check-in da TAM, sem bagagens, pois em Calama já tinham despachado nossas bagagens até Brasília, a moça pediu para nos acalmarmos, pois todas as pessoas de uma fila gigantesca estavam aguardando para embarcar no mesmo vôo. Fizemos o check-in e fomos para a sala de embarque. Surpreendentemente, o vôo saiu no horário, embora a fila. Durante o vôo, tiveram várias turbulências. Uma em especial mudou totalmente a visão que eu tinha dos aviões. Eu adorava viajar de avião. Nunca realmente acreditei que um avião pudesse cair quando eu estivesse dentro dele, até neste dia. Como estavam tendo diversas turbulências, o serviço de bordo não conseguia entregar as refeições continuamente. Até que em uma delas o piloto avisou para todos atarem os cintos. O serviço de bordo apenas encostou os carrinhos em um canto e então todos sentaram. A turbulência começou, foi se intensificando, as coisas do carrinho começaram a cair, os maleiros começaram a abrir. Foi quando eu pensei: “Nossa, isto está parecendo filme, daqui a pouco esse avião cai.” Quando eu terminei este pensamento, o avião teve uma perda e despencou por uns 5 segundos. A sensação é que você está em uma montanha-russa, só que você sabe que não tem um trilho guiando o avião. Eu, e acredito que todas as mulheres do vôo, gritaram de desesperos. Foi inevitável! Quando o avião finalmente se reestabeleceu, eu entrei em estado de choque. Não conseguia conversar, assistir filme, comer, nada. Só rezar. E rezei por 2h30 sem parar até o avião pousar em São Paulo. Já o meu marido, como já tinha dado manutenção em aviões quando era mais novo e sabia que o piloto automático entra em ação quando coisas assim acontecem, achou o máximo ver o sistema funcionar, pela engenharia e não porque não morreríamos daquela vez. Quando cheguei a São Paulo, acho que só não beijei o chão por falta de oportunidade. Fiquei tão chocada que o meu marido até queria voltar de ônibus comigo para Brasília. Como já estávamos com a viagem comprada, decidi pela rapidez da viagem de avião. Mas minhas viagens nunca mais foram às mesmas. Hoje, eu sempre acho que o avião que está comigo é a bola da vez. Mas mudando de assunto e um fato interessante foi que o terremoto que abalou o Chile no começou de 2010 aconteceu exatamente 4 dias depois que voltamos. Se tivéssemos atrasado alguns dias a viagem, de repente, teríamos que ficar muito mais tempo no Chile até conseguir voltar para casa. Desse ponto de vista, tivemos sorte.
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