Cuzco, Caminhada Inca, Linhas de Nazca e Lima
Bom, como eu havia dito antes, esta viagem era para ter sido feita juntamente com o Salar de Uyuni, no entanto, a melhor época para fazer a Caminhada Inca é final de agosto, pois não chove e nem faz muito calor. Contratamos com 4 meses de antecedência a SAS Travel Peru (http://www.sastravelperu.com/), uma empresa que se revelou extremamente eficiente e com guias excelentes. Só tenho elogios! Nosso guia da Caminhada Inca, o Ruben, foi espetacular. Além disso, a empresa faz de tudo: city tour, tours pelo Vale Sagrado, tours combinados. E os preços são bastante convidativos pelo serviço de primeiríssima qualidade. Pagamos pela Caminhada Inca U$ 640 por pessoa, dos quais pagamos U$ 200 por pessoa, para fazer a reserva em Maio. Outro site que consultamos bastante foi um site sobre a Caminhada Inca do governo do Peru (http://www.incatrailperu.com). O site é muito bom, pois tem as empresas que são credenciadas para se fazer a Caminhada Inca, o percurso, opções de outras caminhada além de várias outras informações importantes, inclusive um link para o site do parque que informa a disponibilidade diária de vagas para fazer a Caminhada. As vagas são limitadas em 500 pessoas por dia e cada empresa tem sua cota de vagas. No caso da SAS, eles atualizam diariamente a quantidade de vagas disponíveis. Também contratamos com a SAS um tour por Cuzco e pelo Vale Sagrado (U$ 90 por pessoa) e um vôo sobre as linhas de Nazca (U$ 230 por pessoa). Depois de Nazca, ficamos um dia em Lima e depois mudamos de ares: fomos para a Los Roques, mar do Caribe, Venezuela. Todos os trechos foram tirados com milhas. Compramos primeiramente Brasília – Lima e Caracas – Brasília. O problema era Lima – Caracas. A LAN, parceira da TAM, não tinha vôos diretos para tirar com milhas e para tirar com a TAM, teríamos que tirar os dois trechos, Lima – Caracas e Caracas – Lima. Até que descobrimos que se tirássemos a passagem Lima – São Paulo – Caracas em classe executiva, poderíamos tirar apenas um trecho. Problema resolvido e ficamos muito mal acostumados com a classe executiva!
Dia 21/08/2010 – Brasília – São Paulo – Lima – Cuzco
Saimos de Brasília às 6 horas da manhã, eu, morrendo de medo depois da minha última experiência de avião.
Nascer do sol em Brasília |
Chegamos a Lima já passavam 14 horas. Passamos pela alfândega e despachamos novamente nossa bagagem para Cuzco. Pagamos a taxa de embarque (U$ 6.82 por pessoa), que é paga em uma antessala à sala de embarque. Almoçamos e aguardamos nosso vôo para Cuzco. O vôo foi tranquilo e foi lindo ver os picos nevados durante o vôo de 40 minutos. O pouso que foi um Deus nos acuda: o aeroporto em Cuzco fica entre as montanhas e já quase a 1000 metros de altitude, o avião tem que dar uma volta em uma montanha para poder pousar.
Nuvens e montanhas entre Lima e Cuzco |
Pensem no meu sufoco! Ficamos no hotel Terra Andina, reservado através da Bancorbrás, (http://www.terraandinahotel.com/) um hotel muito bom! Bem localizado e a 10 minutos de caminhada da Plaza de Armas. Deixamos nossas coisas no hotel e fomos até a SAS Travel Peru para informa-los de que havíamos chegado e que pagarmos a segunda parte do tour. Depois fomos dar uma volta na cidade e jantar. As construções com sacadas na Plaza de Armas guardam excelentes restaurantes. Nesta noite, jantamos no restaurante INKA. Estavamos exaustos, terminamos nosso ótimo jantar e voltamos para o hotel.
Dia 22/08/2010 – Caminhada pela cidade
Tomamos café e saímos para andar. Descobrimos que chegamos justamente em época de festa. Estavam ocorrendo desfiles na cidade e as crianças estavam todas fantasiadas. Foi bastante interessante.
Criança fantasiada |
Depois, como o meu marido já tinha ido a Cuzco em 2003, ele me levou pela Calle del Sol até uma painel que conta história da luta do povo quéchua e dos imperadores incas contra os espanhóis. Um pouco de cultura: na realidade, apenas o imperador era chamado de Inca, o povo que se submetia ao imperador era o povo quéchua. Caminhamos pela cidade, passamos por um corredor construído com corte imperial. O
meu marido me contou que as construções incas, ao ocorrer terremotos, não caiam, as pedras se deslocavam e depois se reacomodavam.
Construção Imperial (observem as paredes) |
Os conquistadores espanhóis, para impor o seu poder construíam sobre as construções incas. No entanto, quando ocorriam os terremotos, tudo que era espanhol, caia, e tudo que era inca, permanecia em pé sem maiores avarias. Comprei um chapéu na loja da Columbia e fomos até a pedra dos 12 ângulos, a única pedra encontrada nas paredes com essa quantidade de ângulos e que era importante para os guerreiros do Império Inca, pois antes de cada batalha, eles iam até esta pedra rezar para ter sucesso.
Pedra dos 12 ângulos |
Descobrimos que poderíamos ter alugado de tudo em Cuzco: desde roupas e botas até a mochila para a caminhada. Almoçamos pela cidade e depois voltamos para o hotel. Teríamos mais dois dias na cidade: o dia seguinte e o dia depois da Caminhada Inca. Então decidimos que combinaríamos com a SAS que faríamos dois tours, no entanto, da seguinte forma: faríamos uma parte do tour pela cidade e emendaríamos o passeio pelo Vale Sagrado no dia seguinte e no último dia em Cuzco, como sairíamos às 17h para Nazca, faríamos logo depois do almoço o restante do tour pela cidade. Jantamos no hotel e fomos dormir.
Dia 23/08/2010 – Parte do City Tour e Vale Sagrado
O City Tour da SAS inclui os pontos turísticos em Cuzco mais Saqsayhuaman, Tambomachay, Puca Pucara e Qenqo. Já o passeio no Vale Sagrado começa em Pisac e termina em Chinchero, passando por Urubamba e Ollantaytambo. Como expliquei antes, fizemos o city tour a partir de Saqsayhuaman e depois emendamos o tour pelo Vale Sagrado. Os pontos turísticos em Cuzco ficaram para o último dia. Para entrar nos pontos turísticos tanto do city tour quanto do Vale Sagrado, compramos o Boleto Turístico que custou 130 soles que dá acesso a todos os lugares dos tours além de outros que não visitamos.
Cobra nas paredes de Saqsayhuama (observe a cabeça, formada pela pedra maior, seguida do corpo) |
Saqsayhuama era uma fortaleza do Império Inka para proteger Cuzco, fica no alto do morro e tem uma vista panorâmica da cidade.
Muralha em Saqsayhuama |
Qenqo (altar de sacrifícios) |
É bem impressionante as pedras que formam a fortaleza, algumas de até 8 metros de altura. Em alguns pontos da fortaleza, eles dispunham as pedras nas paredes de forma que elas formassem animais, como cobras, peixes e aves. Depois, fomos para Qenqo, onde dentro de uma fissura na rocha, eles cortaram um altar para sacrifícios. Segundo o guia, as escavações que já foram feitas no local encontraram diversas ossadas de animais, principalmente lhamas. Depois passamos em dois locais: Puca Pucara e Tambomachay. Dizem que Puca Pucara foi um local de hospedagem. Há várias ruínas que têm o formato de casas sem teto.
Tambomachay |
Vale Sagrado |
Em Tambomachay, encontramos o mesmo tipo de corte nas pedras que se encontra em Cuzco, o corte imperial, então se acreditava que aquele local era um templo. Há inclusive uma fonte com dois buracos na parede e dizem que os dois buracos representavam os olhos do puma. No império Inca havia a crença de que o serpente era o deus do mundo inferior, o puma era o deus do mundo atual e o condor, o deus do mundo superior. Além disso, com relação às construções, quando o bloco de pedra era utilizado quase que em seu estado bruto, a construção provavelmente era residencial ou uma hospedagem.
Pisac |
Quando havia um tratamento superficial, um polimento das pedras, mas sem a tentativa de se produzir pedras com lados retos, a construção era militar, como em Saqsayhuaman. E finalmente, quando as pedras da construção tinham os lados perfeitamente retos, a construção era imperial, sendo usada para palácios e templos, como há em Cuzco. Seguimos o tour pelo Vale Sagrado que é deslumbrante e fomos para Pisac, toda construída em pedras com corte imperial. Há um templo que dizem que era astronômico, tendo em vista que há uma pedra perfeitamente polida no centro do templo e abaulada para o acumulo de água, formando um espelho para refletir o céu. Além disso, as paredes do templo foram feitas com o corte imperial. Em Pisac há também diversos túmulos nas encostas dos morros e no Império Inca acreditava-se que quando o condor comia os corpos enterrados nas encostas dos morros e voava, ele estava levando a alma daquela pessoa para o céu. Fizemos uma pequena caminhada por Pisac com o nosso guia. Depois fomos para Urubamba onde almoçamos e seguimos o tour.
Ollantaytambo |
Ollantaytambo é incrível, toda construída com corte imperial. Além disso, há livros que mostram que Ollantaytambo tem o formato de uma lhama na encosta do morro. O povo quéchua descobriu que o morro de frente para Ollantaytambo tinha as condições perfeitas para desidratar batatas e manter o povo alimentado mesmo na seca. Esculpiram então neste morro, um rosto humano com uma coroa, provavelmente a figura do Imperador Inca. Eles plantavam nas terraças em Ollantaytambo e na coroa da figura, eles colocavam os alimentos a serem desidratados e garantiam que não haveria fome na população. Dizem que essa era uma das formas que eles utilizavam para convencer outros povos a se unirem a eles antes de qualquer batalha. Eles só usavam a força quando o povo não concordava. E como água e comida eram raros na região, quase sempre a guerra era desnecessária. O nome Ollantaytambo significa hospedagem de Ollantay. Dizem que Ollantay, um general do Império Inca muito bem sucedido, ganhou uma guerra e o Imperador lhe disse que ele poderia pedir qualquer coisa. Ollantay, que era secretamente apaixonado pela princesa, pediu para se casar com ela. Os incas só se casavam com outros incas, o casamento entre irmãos era recorrente. O Imperador não permitiu e, além disso, prendeu Ollantay onde hoje é chamado de Ollantaytambo. No entanto, a história teve um final feliz: quando o príncipe assumiu o trono e vendo o sofrimento de sua irmã, que também era apaixonada por Ollantay, soltou-o e permitiu o casamento.
Chinchero |
Depois de Ollantaytambo, fomos para Chinchero. Em Chinchero há uma igreja feita pelo povo quéchua já sobre o domínio espanhol. No entanto, a religião para este povo era tão forte que nos desenhos das paredes, as santas tinham as feições de Pacha Mama, mãe Terra, que era venerada no Império Inca e as flores eram orquídeas, tão comuns nesta região. Além de haver várias referências a milho e batatas, base da alimentação do povo. Chegamos em Cuzco às 18h e às 20h, tínhamos reunião da Caminhada Inca que começaria no dia seguinte às 5h da manhã. Conhecemos nossos guias, Ruben e Dwite, e os outros integrantes do nosso grupo: Iahir e Merav - israelenses, James e Andrea - americanos, Robert - irlandês, Anne – inglesa e Aron – canadense. Ou seja, nosso inglês ia correr solto. Ficamos impressionados com a coragem de James. Ele pesava 160kg e estava disposto a fazer a Caminhada. Depois da reunião, jantamos em um dos restaurantes da Plaza de Armas e fomos dormir. O dia seguinte começaria cedo!
Dia 24/08/2010 – Primeiro dia da Caminhada Inca
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Folder da Caminhada Inca |
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Percurso em altitude e dias |
Acordamos às 4h e caminhamos até uma praça perto do Hotel. Saimos de Cuzco por volta de 5h30 da manhã. Chegamos em Ollantaytambo por volta de 8h e descemos em um ponto para tomarmos café da manhã. Eu aluguei os trekking poles do nosso guia, Ruben, por 20 soles. Mas há a possibilidade de se alugar ou comprar os trekking poles tanto em Cuzco como em Ollantaytambo. Um bom, como o que o
meu marido comprou nessa parada antes do início da caminhada, custa algo em torno de U$ 20. O
meu marido comprou apenas um, eu aluguei dois e meus joelhos agradeceram. Há também a possibilidade de trekking poles de bamboo ou de madeira, que estão de acordo com as regras do parque, pois lá não é permitido trekking poles que possam furar o chão, podem ser de madeira ou metal e no caso dos de metal, é necessário que a ponta seja plana e protegida. Recomendo a leitura das regras do parque para se fazer a Caminhada.
Grupo da Caminhada Inca |
Chegamos ao KM 82, onde começa a Caminhada Inca, por volta de 9h. Haviam vários ônibus cheios como o nosso, no local. Recebemos o nosso primeiro lanchinho (uma garrafinha de água, frutas, uma barra de cereal e biscoito) e colocamos nossas mochilas (a minha pesava uns 12kg e quando coloquei, não me incomodavam em nada). Passamos pelo posto de controle, atravessamos a ponte sobre o Rio Urubamba e começamos a caminhada. Ficamos impressionados com os “porters” de 1,5m carregando cargas gigantescas. O guia nos disse que antes eles carregavam até mais peso mas agora existia uma regra que eles não poderiam carregar mais que 30 quilos. O primeiro dia é relativamente plano e tem uma extensão de 12 km. A cada 1h a 1h30 fazíamos paradas de 30 minutos. Neste dia, 30% ou menos do trecho pertencia ao Caminho Inca. Segundo o guia o Caminho Inca real ficava na margem oposta do rio Urubamba e não estávamos passando por lá porque aquela parte do caminho tinha sido destruída. No entanto, de onde estávamos, vimos os primeiros sítios arqueológicos na encosta do morro: Piskakuchu e Q’anabamba. Logo depois, pudemos ver, também a distância, Willkarakay e Q’entimarka. Quando saímos de Cuzco, fazia bastante frio, acredito que menos de 10 graus. No entanto, depois de duas horas de caminhada, o calor já estava insuportável. Na primeira parada, tirei toda a parafernália de acessório para frio que eu estava e inclusive, as pernas da calça que eram removíveis. Existem vários vilarejos pelo caminho e em alguns momentos parávamos nesses vilarejos para tomar fôlego. Depois de muitos altos e baixos, chegamos ao nosso local de almoço, as margens de uns dos braços do rio Urubamba. Ficamos impressionados com a estrutura: tendas montadas, sopa como entrada e um almoço excelente, com salada, arroz e frango. Muito bom! Descansamos por duas horas e enquanto isso, aproveitamos o tempo para se enturmar com o pessoal.
Eu, reiniciando a caminhada depois do almoço |
Todos muito legais. Depois do almoço, começamos a subir de novo e a mochila começou a incomodar. No trecho depois do almoço as descidas são raras e as subidas, mesmos que de inclinações leves, são uma constante. No fim do dia, em uma das subidas do trecho passamos por um ponto de controle e a dor nos meus ombros já se tornava insuportável: meus ombros estavam esfolados por causa do peso da mochila. Conversei com o guia que tentou reajustar a mochila no meu corpo e colocou alguns casacos entre as alças da mochila e os meus ombros para ver se eu conseguia chegar ao acampamento que estava a menos de uma hora de caminhada, mas, no entanto, há menos de uma hora de subida. Não consegui mais acompanhar o grupo e eu e o
meu marido decidimos ir mais devagar. Ficamos em um dos campings em Ayapata. Chegamos uns 30 minutos depois do primeiro grupo e James, Andrea e Dwite (o guia) chegaram um tempo depois. Novamente um serviço de primeira, chegamos e todas as barracas já estavam montadas. Tomamos café da tarde (leite, achocolatado, pão, queijo e até pipoca) e fui tomar um banho. Como a água nesta região é gelada e escassa, ficava quase impossível tomar banho. Tinha feito o seguinte planejamento: comprei shampoo a seco (isso mesmo, o shampoo limpa o cabelo sem a necessidade de usar água, tinha testado em Cuzco e funcionou perfeitamente) e lenços umedecidos. O cabelo até que foi bem, mas passar lenços umedecidos no corpo foi a pior solução que eu poderia achar: a mistura do suor e do produto dos lenços umedecidos fez minha pele ficar “preguenta” por horas. Incomodou até para dormir. Fomos jantar depois do meu “banho”. Conversamos com o Ruben durante o jantar e eles no disse que se nós quiséssemos um carregador para a minha mochila, ele arrumaria um. Eu concordei na hora. Depois do jantar, o Ruben e o Ricardo (o assessor do Ruben para assuntos diversos) foram até a nossa barraca e pesaram minha mala. Falaram que o preço seria 90, eu pensei “dólares?” e logo, parecendo que ele tinha lido os meus pensamentos, respondeu soles e o preço seria pelos três dias. Eu, e os meus ombros esfolados, concordaram sem questionar. Acho que mesmo se fosse dólares, eu pagaria. Depois fomos dormir.
Dia 25/08/2010 – Segundo dia da Caminhada Inca
Acordamos às 6h e às 6h30 serviram chá quente na nossa barraca e nos informaram que às 7h deveríamos estar com todas as nossas coisas arrumadas e tomando café. Fazia uns 5 graus. Arrumamos minha mochila, pois o
meu marido aproveitou a oportunidade para colocar algumas roupas sujas dele na minha mochila para diminuir o peso da dele. Quando terminamos o café, já tinham desmontado todas as nossas barracas. Saímos do acampamento às 7h30. Eu com a energia renovada e sem a mochila nas costas, estava super empolgada.
Nosso acampamento (no pé da montanha, percebam as pessoas pequenininhas do lado direito da foto, foto tirada do platô) |
Na primeira hora de caminhada na floresta (só subida, formada por uma escada de degraus infinitos) os carregadores do nosso acampamento passaram por nós. Paramos em um platô, uma hora e meia depois que começamos a caminhar e o Ruben nos mostrou de onde saímos, praticamente da base da montanha, e para onde iamos: o Passo da Mulher Morta. Uma cela no alto da montanha, já em uma região de pradaria. Nosso acampamento ficava a 3300 metros de altitude. Estavamos a aproximadamente 3700 metros e o Passo da Mulher Morta ficava em torno de 4200 metros.
Passo da Mulher Morta (cela no horizonte, percebam as pessoas pequenininhas do lado esquerdo da foto, foto tirada do platô) |
A previsão de chegada lá era em duas horas. No entanto, ficamos impressionados, pois naquela hora da manhã, já haviam pessoas lá. Era possível ver as “formiguinhas” coloridas lá. Descobrimos porque eles não recomendam beber a àgua dos córregos: nesses locais de descanso sempre há pequenos comerciantes, eles lavam toda a louça deles nesses córregos. Além disso, não há descargas nos banheiros, eles aproveitam a água do córrego para se livrar dos dejetos. Demoramos 2h30 para chegar ao Passo da Mulher Morta. O meu marido não estava passando muito bem e fomos mais devagar.
Chegada no Passo da Mulher Morta |
Quando chegamos lá foi um alívio. O trecho mais difícil da caminhada tinha acabado. O James e a Andrea saíram às 4h da manhã e já tinham passado por lá. Descansamos um pouco e começamos a descer. A temperatura variava bastante: quando o sol aparecia, o calor incomodava, minutos depois, uma nuvem tampava o topo da montanha e a temperatura caia vertiginosamente. Descemos para aproximadamente 3500 metros de altitude.
Passo da Mulher Morta |
O impressionante era que se para subir foi difícil, para descer foi pior ainda. Parecia que nós tínhamos perdido o controle das nossas pernas. Além disso, a bota de caminhada, por ser dura na ponta, esmagava os dedos quando descíamos os degraus. Mas mesmo assim, a vista do vale era espetacular. Passamos pela Andrea e o James na descida. Chegamos ao acampamento e a barraca para almoçarmos já estava armada e o almoço quase pronto. Depois do almoço, procuramos uma sombra em meio aos vários acampamentos ali montados e deitamos um pouco para descansar. Entre almoço e descanso, foram duas horas.
Acampamento que paramos para o almoço (reparem o Passo da Mulher Morta ao fundo, no alto da montanha) |
Tinhamos mais uma subida de aproximadamente 500 metros e as subidas na Caminhada Inca teriam acabado, pelo menos, era o que os guias nos diziam. Começamos a caminhar de novo e logo surgiu o primeiro sítio arqueológico: Runkuraqay, um posto de observação e descanso dos mensageiros. Aqui, Rubens nos contou que o Imperador Inca, embora não morasse no litoral, recebi peixes frescos a sua mesa por causa dos mensageiros que percorriam o Caminho Inca. Além disso, os “quipos” eram a forma que o Imperador tinha para saber informações sobre o império. Eles tinham o formato de um pequeno varal, com várias cordas penduradas e cada corda tinha uma determinada quantidade de nós. Só o Imperador era capaz de decifrar as informações dos “quipos”. Depois desse local, continuamos subindo. Quando finalmente chegamos novamente a 4000 metros de altitude, o Ruben parabenizou o grupo por chegarmos lá porque a partir deste momento começaríamos a descer, pois Machu Pitchu fica 2400 metros de altitude.
Qonchamarca |
Descemos por aproximadamente 1h30 e passamos por Sayaqmarka e Qonchamarca, dois sítios arqueológicos já perto do nosso acampamento. Sayaqmarka é lindo e fica na encosta do morro. Chegamos lá já com o sol se ponto e foi deslumbrante. Não visitamos o sítio, pois estávamos sozinhos (tínhamos ficado para trás novamente) e lá estava lotado de outros turistas.
Chegada ao acampamento do segundo dia |
Chegamos ao acampamento por volta de 17h30, passando pelo meio da floresta. Fizemos uma festa quando o James e a Andrea chegaram, quase uma hora depois de nós. Eles tinham conseguido! Quando fomos tomar café, conversamos com a Merav a respeito de banho, dizendo que na nossa cultura não é costume ficar sem tomar banho. E então ela abriu meus olhos para algo que eu não tinha percebido: com o pouco de água quente que eles colocavam na porta das nossas barracas, um paninho (no meu caso foi uma meia) e sabão, era totalmente possível tomar banho. Nos países árabes é comum esse tipo de situação e o uso de pouca água para banho é bem difundido. Essa foi a maior lição que eu aprendi nessa caminhada. Foi totalmente perfeito. Pedi para o Ruben água quente e quando ficou pronto, fui para a barraca. Acho que foi o melhor banho da minha vida. Consegui até lavar o cabelo depois com a ajuda do meu marido. A única coisa ruim foi o frio que estava fazendo então, ao mesmo tempo em que eu tomava banho, eu tremia de frio. O meu marido teve a capacidade de tomar banho não água fria fazendo 4ºC. Jantamos e depois fomos dormir. Eu estava feliz da vida por ter conseguido tomar um banho e não me sentir pregando. Foi nesse dia que eu também percebi o quanto é importante levar uma lanterna descente. A nossa era pequena e não iluminava o suficiente. Recomendo fortemente levar uma lanterna boa, pois você não precisará dela apenas na barraca, mas também para ir ao banheiro a noite.
Dia 26/08/2010 – Terceiro dia de Caminhada Inca
Acordamos da mesma forma que no dia anterior. No entanto, depois do café da manhã, houve uma interação entre nós (o grupo que estava fazendo a caminhada) e a equipe de suporte. Cada um da equipe se apresentou, informando quantos anos tinha, quanto tempo trabalhavam fazendo a Caminhada Inca e um pouco da vida pessoal como se eram casados, se tinham filhos e coisas do tipo. Depois, cada um do nosso grupo se apresentou contando um pouco de cada um como quantos anos tinha e no nosso caso, há quanto tempo eramos casados. Tiramos fotos de todos: o grupo que estava fazendo a caminhada e a equipe de suporte e depois nos preparamos para começar a caminhar. As minhas pernas estavam extremamente doloridas e acho que sem os trekking poles, ficaria bem mais difícil. Nesse dia, o que imperam eram as decidas.
Túnel Inca no Terceiro Dia |
As subidas eram super tranquilas. No entanto, devido à neblina, não conseguimos ver o abismo a nossa volta: estávamos caminhando na encosta da montanha! O Ruben nos disse que mais de 65% do Caminho Inca deste dia era da época do Império Inca. Depois de uma hora caminhando, paramos em um ponto para descansar, pois a escada dali até Phuyupatamarka, nosso primeiro sítio arqueológico do dia, era íngreme e teríamos que tomar muito cuidado para descer e não perder o equilíbrio.
Phuyupatamarka |
Paramos em Phuyupatamarka por alguns instantes enquanto o Ruben nos dava algumas explicações sobre o lugar. Depois de uma hora e meia de caminhada, tínhamos duas opções, continuar por mais meia hora caminhando e visitar Yunkapata (Intipata) ou caminhar por meia hora em uma segunda direção e já chegar ao acampamento onde iriamos almoçar.
Decidimos visitar Yunkapata.
Caminho Inca (degraus esculpidos na pedra) |
Decidimos visitar Yunkapata.
Além de nós, Anne, Robert, Merav e Ihair. A vista do vale em Yunkapata é deslumbrante. Pode-se ver o rio Urubamba lá em baixo. No entanto, Machu Pitchu ainda não pode ser vista. Descobrimos que vários locais nas terraças tinham morangos selvagens, bem maduros.
O pessoal se divertiu procurando morangos. E foi a primeira vez que realmente tive a oportunidade de conversar com a Anne. Ela me contou que havia passado em Medicina em uma Universidade na Inglaterra, só que decidiu que antes de entrar na Universidade, ela iria viajar. Foi para a Itália e ficou 7 meses lá sendo babá e aprendendo italiano. Depois, decidiu ir para a Bolívia e trabalhar por alguns meses em obras sociais.
E finalmente, a poucos mais de 1 mês antes do começo das aulas, ela decidiu passear um pouco pela América do Sul antes de ir embora. Ficamos impressionados com a disposição e a coragem dela! Ela nos disse que em três dias estava voltando para a Inglaterra e em que em duas semanas estava se mudando para o norte do país para cursar Medicina. Depois deste local, fomos para o acampamento, a poucos mais de 10 minutos caminhando. Este acampamento era bem diferente dos outros: as barracas ficavam em pisos cimentados, havia vários banheiros, chuveiro elétrico e um restaurante. Como fomos uns dos primeiros grupos a chegar, pegamos uma das melhores mesas dentro do restaurante. O almoço, ou melhor, o banquete, foi excelente. Divertimo-nos muito. Neste dia, não caminharíamos mais longas distância: apenas visitaríamos Wiñaywayna, o último sítio arqueológico antes de Machu Pitchu e quase dentro do nosso acampamento. Segundo o Ruben, após o almoço, teríamos tempo para tomar banho, descansar e depois visitaríamos Wiñaywayna. Depois do almoço, fomos para a barraca e o meu marido encontrou uma pedra dentro da mochila dele: o Ruben, um pouco antes de irmos para as barracas me pediu para colocar a pedra dentro da mochila do meu marido para que o meu marido pensasse que ele tinha carregado a pedra por todo o percurso desde o último acampamento. Quando meu marido descobriu, veio brigar comigo e eu contei como tudo tinha acontecido e ele ficou indignado com o Ruben. Brincadeiras a parte, nós e o Ruben ficamos muito amigos. Até hoje sentimos saudades dele. Tomamos um bom banho, descansamos e fomos tomar café da tarde. O banho custa em torno de U$ 3 dólares, com água quente e eles fornecem uma toalha. Logo depois do almoço a fila é grande, mas com o passar da tarde a fila diminui bastante. Durante o café, o Ruben nos explicou que é de praxe dar uma gorjeta para a equipe que dá suporte, no entanto, fez num tom meio que de cobrança, como se fossemos realmente obrigados a dar. Colocou até preço, algo em torno de U$ 25 por pessoa. Ficou um clima meio chato, todo mundo se perguntando se iamos ou não dar gorjeta. Nós com certeza daríamos alguma coisa para o Ruben e obviamente ao Ricardo, nosso carregador, além do pagamento que havíamos combinado, pois nós sabíamos o quanto a minha mochila estava pesada. A Andrea e o James queriam dar uma gorjeta para o Dwite por ter ficado de “babá” dos dois. No entanto, para a Anne, por exemplo, que fazia meses que estava vivendo do dinheiro que ela ganhou na Itália, U$ 25 era muita coisa. No final, decidimos que cada um daria o que pudesse e que se a pessoa quisesse dar mais para um ou para outro da equipe, seria dado pessoalmente e separado da “vaquinha” de toda a equipe.
Visitamos Wiñaywayna e lá foi um dos primeiros locais que vimos casas de dois pavimentos entre as ruinas. O Ruben nos deu várias explicações sobre a simbologia do local e nos disse que provavelmente ali, era também um local de oração. Voltamos para o acampamento, conversamos bastante e fizemos nossa “vaquinha”. O interessante foi que o espírito de equipe do pessoal do suporte é tão grande, que quando fomos pagar o Ricardo, pagamos o dobro do que havíamos combinado. Ele ficou todo desconcertado e disse que aquele valor a mais era para ser incluído no total que entregaríamos mais tarde. Nós reafirmamos que aquele dinheiro era só para ele. Ele ficou super feliz. Jantamos e depois do jantar teve uma espécie de cerimônia para entregarmos a nossa “vaquinha” para os guias e para a equipe de suporte. A Andrea, que embora seja naturalizada americana nasceu guatemalteca, fez uma mensagem linda para agradecer ao pessoal do tour. Foi bem emocionante! Depois, comemos um bolo que o Ricardo havia providenciado para o grupo e ficamos batendo papo. No dia seguinte teríamos que acordar às 3h30. Fiquei com o pessoal até por volta de 21h e fui dormir. O meu marido, como estava conversando com o Ruben, ficou até um pouco mais tarde.
Caminho Inca |
Vista de Yunkapata |
Wiñaywayna |
Dia 27/08/2010 – Quarto dia de Caminhada Inca, Águas Calientes e Cuzco
Acordamos às 3h30. Teve um pessoal do grupo que virou a noite, pois quando resolveram ir dormir já eram mais de 2h. Tomamos café e o Ruben nos explicou que tínhamos que acordar tão cedo porque eram duas horas de caminhada até o Portal do Sol (Intipunku) e a primeira visão de Machu Pitchu.
Último posto de controle antes de Machu Pitchu |
Entramos em uma fila para passar pelo posto de controle e vi o quanto seria bom termos comprado o trekking pole do meu marido com lanterna: não se via nada, apenas que haviam pessoas a sua frente e pessoas atrás. Aproveitamo-nos das lanternas alheias e da nossa lanterninha para iluminar o caminho, que no começo é um breu total. O trecho é tranquilo, há subidas e descidas, mas nada desesperador, a não ser já perto do Portal do Sol uma escada com degraus extremamente estreitos e com uns 80 graus de inclinação.
"Oh my good steps" |
Ela é popularmente chamada de “Oh my good steps” porque todo mundo que olha para ela a primeira vez pronuncia essa frase na sua língua. Há duas formas de subi-la: de quatro, apoiando tanto os pés quanto as mãos, ou simplesmente ignorar os trekking poles e subir rápido, tomando cuidado ao pisar nos degraus, que foi o que eu e o meu marido fizemos. Quanto mais cedo você chega ao Portal do Sol, menos gente você encontra.
Nós no Portal do Sol |
Lembre-se que o acampamento do 3º dia abriga a grande maioria das pessoas que entraram no parque no mesmo dia que você, então esse trecho é também bem movimentado. Chegamos ao Portal do Sol com o dia amanhecendo e Machu Pitchu em meio às nuvens. Sentamos na beira de uma das terraças e ficamos admirando a paisagem enquanto Machu Pitchu não aparecia. O dia foi esquentando e as nuvens foram sumindo. Foi espetacular ver Machu Pitchu lá de cima.
Portal do Sol |
Ficamos um tempo tirando fotos até que o Ruben nos pediu para continuarmos caminhando até chegar em Machu Pitchu. O trecho do Portal do Sol até Machu Pitchu é todo em pedra. Em meio a este caminho, encontramos uma lhama pastando tranquila, o que me deu a oportunidade de fazer um carinho nela sem que ela cuspisse em mim. Tive sorte!
Fazendo carinho em uma lhama |
Chegamos em Machu Pitchu por volta de 7h30 e a cidade já estava lotada de turistas. Queria subir o Wina Pitchu, uma montanha em frente a Machu Pitchu que também há algumas ruinas, mas segundo o Ruben, teríamos que chegar em Machu Pitchu às 6h para conseguir uma vaga, pois a quantidade de pessoas que também podem subir são limitadas.
Nós em Machu Pitchu |
Sentamos em uma das terraças logo no início da cidade e o Ruben fez um “overview” para cidade para nós. Depois, começamos a visita guiada. Fomos ao Templo do Condor, onde Ruben nos mostrou que antes da suposta descoberta em 1910, pessoas já haviam ido naquele lugar e entalhado seus nomes nas pedras. Depois fomos andar pela cidade e o guia nos mostrou o porquê do Portal do Sol, em Machu Pitchu há o Templo do Sol e neste templo, há entalhes nas pedras.
Templo do Sol |
Eles determinavam os solstícios quando os raios solares, ao passarem pelo Portal do Sol, alinhavam-se aos entalhes no Templo do Sol. Fizemos um passeio guiado de umas duas horas. Estávamos quebrados! Mas nos divertimos muito. Ficamos indignados quando ele nos contou que o rei da Espanha, ao visitar Machu Pitchu, mandou arrancar um obelisco que havia no meio do pátio principal. Há fotos da época do descobrimento da cidade, com o obelisco no local.
Foto do grupo com o Wina Pitchu ao fundo |
No final, o Ruben nos disse que teríamos mais 2 horas livres em Machu Pitchu para andar mais um tempo pela cidade e depois deveríamos descer para Águas Calientes, onde almoçaríamos e pagaríamos o trem de volta a Cuzco. Fomos até a entrada, carimbamos nossos passaportes com o símbolo de Machu Pitchu, fui ao banheiro (muito arrumado e até com água quente), comemos alguma coisa na lanchonete, guardamos a mochila do meu marido no guarda-volumes e reentramos no parque.
Machu Pitchu |
Andamos mais um tempo e depois nos sentamos em um canto da cidade e ficamos olhando o movimento e vimos como foi importante levar repelente: tinha um grupo que provavelmente ninguém tinha levado repelente, todos, sem exceção, estavam cobertos de picadas de mosquito. Ficamos até com dó deles. Perto das 11h30, pegamos o ônibus do próprio parque, que sai de meia em meia hora, para irmos para Águas Calientes. Encontramos com o pessoal no restaurante e logo vi que minha mochila tinha chegado bem antes de mim: o pessoal do suporte, ao desmontar o acampamento, desce para Águas Calientes logo depois que saímos para Machu Pitchu. O trem deles parte às 7h da manhã de volta para Cuzco e antes do trem sair, eles deixam as mochilas que eles carregaram no restaurante onde mais tarde, iriamos almoçar. Enquanto o almoço não ficava pronto, saímos para tentar comprar alguns “regalos” numa feirinha próxima. Não achamos nada de interessante. Voltamos, almoçamos, conversamos bastante, recebemos o certificado de que tínhamos feito a Caminhada Inca e às 15h30, o Ruben e o Dwite se despediram. O trem deles saia às 16h. O nosso só sairia às 17h. O grupo começou a se dispersar. Quando fomos para a estação, apenas algumas pessoas do grupo e não sentamos próximos uns dos outros. Aron, Robert, James e Andrea ficaram em Águas Calientes pois tinham outros planos. O trem é bem confortável inclusive com serviço de bordo, mas péssimo em velocidade. Demorou 4 horas para percorrer 100km. Quando chegamos em Cuzco, já passavam das 21h. Chegamos ao hotel e supreendentemente, nos colocaram numa suíte excelente. Tinha até banheira e a cama era gigantesca. Acho que foi um prémio. Pegamos uma mala que havíamos deixado antes da caminhada e fomos dormir. Estávamos exaustos!
Dia 28/08/2010 – City Tour em Cuzco e ônibus para Nazca
Acordamos com as pernas doendo, mas não tinha jeito, tínhamos, ou melhor, eu tinha que conhecer o que eu não havia visitado em Cuzco nos dias anteriores. Tomamos café e fomos andar pela cidade.
Catedral (vista da Igreja Compañia de Jesus) |
Visitamos a Igreja Compañia de Jesus e ficamos impressionados com o tour que a guia que ficava na frente da igreja fez. Ela era muito boa! Mostrou-nos o subsolo da igreja, nos explicou o altar, nos mostrou alguns quadros e principalmente, nos contou histórias interessantíssimas sobre os jesuítas. A visita termina em uma sacada da igreja onde se pode ter uma vista panorâmica da Plaza de Armas e de parte de Cuzco.
Plaza de Armas (vista da Igreja Compañia de Jesus) |
Depois, visitamos o Museu Inca e nos encontramos novamente com a Merav e o Ihair. Fiquei impressionada com as múmias deste museu. Lá mostra como eles deformavam a cabeças das crianças, filhos do Imperador, para mostrar que elas eram da família imperial. Depois subimos a rua Triunfo, que passa na lateral da Catedral olhando as lojinhas de artesanato. Caminhamos até a Plaza San Blas, onde há uma pequena feira de artesanato e lojas de esculturas. O meu marido, quando foi a Cuzco em 2003, viu São Francisco perfeitamente entalhado em madeira naquela região. Na época, ele não o comprou, mas nesta viagem se o achasse, ele compraria. Não achamos, embora todas as lojas que entramos. Nosso tempo naquele dia era curto. Tínhamos que almoçar, encontrar com o pessoal da SAS para fazer o restante do city tour e depois ir para a rodoviária para pegar o ônibus para Nazca. Decidimos almoçar em um bom restaurante em Cuzco, afinal era nosso último almoço lá. Fomos até o restaurante Cicciolina (Triunfo, 393, 2º andar) e a escolha foi perfeita, pegamos uma mesa perto da janela e almoçamos observando o movimento da cidade. Encontramos com o nosso guia em frente a Catedral às 13h30. Com eles visitaríamos apenas o Qorikancha e a Catedral. Quando chegamos ao Qorikancha estava lotado.
Qorikancha |
Para onde você olhava tinha turistas. Achamos o guia bem ruim, tanto que o meu marido disse que se soubesse que o guia era tão ruim, ele teria contratado a moça da Igreja Compañia de Jesus para fazer o tour conosco. A única coisa engraçada era que ele falava inglês com sotaque chinês e que era mais evidente quando ele dizia “Inca time”. A visita no Qorikancha foi bem rápida, bem aquém do que esperávamos. Já eram 15h e tínhamos combinado que às 15h30 no máximo, sairíamos da excursão para pegarmos nossas coisas no hotel e irmos para a rodoviária. Só começamos o passeio pela Catedral e depois corremos para o hotel. Arrumamos nossas coisas, e ainda deu tempo de tomar um suco no Mercado San Pedro, que ficava do lado do nosso hotel. O motorista da SAS passou no hotel às 16h15. Entregou-nos as passagens, o vouche do vôo sobre as linhas de Nazca e nos ajudou a colocar nossas coisas no ônibus. Vimos o quanto Cuzco é pobre longe da praça de armas. O ônibus era muito bom, a companhia era a CIAL, serviram jantar e comida estava boa. Enquanto assistíamos a um filme, fiquei observando a estrada, estávamos em cima das montanhas e além da pista só havia o despenhadeiro. Logo, logo, caímos no sono.
Dia 29/08/2010 – Linhas de Nazca e ônibus para Lima
Chegamos a Nazca por volta de 6h30 e a rodoviária era simplesmente uma salinha com algumas cadeiras e televisão. Além de nós e a pessoa que cuidava do local, não havia mais ninguém. Sentamos e começamos a esperar. Depois de meia hora, pedimos para usar o telefone do balcão. O rapaz então perguntou se estávamos esperando para fazer o tour sobre as linhas de Nazca e confirmamos. Aparentemente, 90% das pessoas que vão para Nazca, vão para fazer esse tour tanto que ele tinha o telefone do responsável pelo tour e ligou para ele dizendo que estávamos lá. Depois o moço, muito gentil por sinal, nos informou que o responsável pelo tour logo, logo chegaria. Dito e feito, 10 minutos depois estávamos saindo da “rodoviária”. Fomos para um Hotel Maison Suisse (http://www.tripadvisor.com/Hotel_Review-g304044-d318221-Reviews-Hotel_La_Maison_Suisse-Nasca.html) para tomarmos café e ele combinou que por volta de 9h voltaria para nos pegar. Tomamos café, tivemos acesso grátis a internet e às 9h ele voltou.
Avião usado no tour pelas Linhas de Nazca |
O hotel fica do lado da pista de pouso e decolagem. Existe uma pequena feira no local e além do piloto e co-piloto, fazem o vôo quatro pessoas. Cada um recebe um fone de ouvido no qual o piloto se comunica com os passageiros.
Aranha no deserto de Nazca |
Além disso, os passageiros recebem um mapa das linhas. Estava morrendo de medo do aviãozinho, pois nunca tinha voado em um. Quando ele levantou vôo, todos os meus medos acabaram. Não haviam turbulências e o vôo foi super tranquilo. O piloto era bem experiente e a única coisa ruim foi que durou muito pouco: 35 minutos. O primeiro desenhos que vimos foi um astronauta em um monte. Depois disso, vimos figuras geométricas, mãos, uma árvore, um condor, um bem-te-vi, uma aranha e assim por diante.
Beija-flor no deserto de Nazca |
Quando o piloto começou os procedimentos de pouso nem acreditei. Fiquei com a sensação de quero mais! Há algum tempo atrás, depois da viagem, um amigo me perguntou se valeu a pena. Para dizer a verdade, para mim foi espetacular. Era algo que eu nunca tinha imaginado fazer, via na televisão, mas nunca pensei que teria a oportunidade. E quando ela surgiu, eu a agarrei e não me arrependi, foi muito bom! Depois do passeio de avião, tínhamos duas opções: visitar um cemitério da cidade ou os aquedutos.
Aqueoduto |
Escolhemos os aquedutos. Ficamos impressionados em como eles faziam para conseguir água: construíam buracos no chão em espiral de forma que a pessoa conseguisse chegar perto dos lençóis de água sem muito esforço. Vimos uma duna de areia mais alta do que as montanhas da região.
Maior duna em extenção do mundo (atrás das montanhas) |
O guia nos disse que sempre há campeonatos de SandBoard lá, pois ela é a maior duna em extensão do planeta. Depois visitamos umas das figuras das linhas de Nazca para ver como elas são vistas do solo: a terra e as pedras são organizadas para formarem as figuras. Depois fomos a algumas casas de artesão conhecer o artesanato dos ancestrais da região. Infelizmente, cada “lembrancinha” não custava menos que U$ 70 então desistimos de comprar qualquer coisa. Finalmente, fomos a uma casa de extração de ouro e prata.
Garimpo de ouro |
Uma pessoa do lugar dá uma visão geral de como é feita a extração, que é artesanal: há uma etapa que as pessoas ficam até 7 horas balançando em cima de uma pedra para moer o que está embaixo. O rapaz nos disse que muitas vezes, a pepita resultante da extração é menor que uma pérola. Há algumas coisas para vender e não são muito caras, no entanto, comprei apenas um brinco de prata. Daqui, passamos no hotel novamente, pegamos nossas mochilas e o guia nos entregou as passagens e nos deixou no terminal de ônibus. Almoçamos frango em um restaurante perto e ficamos esperando o ônibus sair às 13h30. Viajamos pela companhia Cruz del Sul. Os ônibus são muito bons e confortáveis. Chegamos a Lima às 20h30. Achamos interessante que quando se chega à rodoviária, o passageiro não fica do lado do ônibus para pegar a bagagem. Você vai para uma sala de desembarque e aí sim você recebe sua bagagem. Ficamos hospedados no Hotel Embajadores (http://www.embajadoreshotel.com/) e também o reservamos pela Bancorbrás. Taxi em Lima não é caro, mas o ideal é negociar antes com o taxista a corrida. Chegamos ao hotel já eram quase 22h, tomamos um merecido banho e fomos dormir.
Dia 30/08/2010 – Lima
Acordamos por volta de 9 horas, tomamos café e fui para a internet descobrir o que tínhamos para fazer. O meu marido falava muito mal de Lima, dizendo que era uma cidade muito pobre e que não havia nada para se fazer lá. Juntei as informações que achei na internet junto com o que dizia no guia da Lonely Planet e fomos para a Plaza de Armas.
Catedral na Plaza de Armas |
Como tinha uma má impressão da cidade provocada pelo meu marido, pensei que realmente ele teria razão. No entanto, me surpreendi: pelos lugares que passamos, vi uma cidade limpa e bem organizada. No entanto, chegamos em dia de feriado, então não sei dizer ao certo como Lima é de verdade em dias normais. Andamos pela região e tudo limpinho e os prédios bem conservados. Uma pena que não pudemos entrar na Catedral, pois como eu acredito que o feriado era militar, estava havendo uma missa apenas para o presidente e os militares.
Plaza San Martin |
Passamos em uma Falabella, bastante comum em Buenos Aires, e fiquei doida por algumas calças que eu experimentei e que tinha os preços bem em conta. Queria compra-las mas o meu marido se recusou a carrega-las dizendo que ainda tínhamos um dia inteiro pela frente. Eu como boa esposa, desisti das calças. Continuamos andando pela peatonal Jirón de La Unión, cheia de lojas dos dois lados até chegarmos na Plaza San Martin, linda, cheia de prédios no melhor estilo francês. Da Plaza San Martin, continuamos caminhando pela Jirón de La Unión e quando chegamos na Tambo de Belém, viramos a direita pois vi uma Igreja azul que achei linda, a Igreja da Recoleta. Depois continuamos seguindo pela Rufino Torrico e para nossa sorte, sem nenhum planejamento, chegamos na CompuPlaza: um shopping só com lojas de computadores. Estava pensando em comprar um netbook e ficamos horas andando lá dentro. Os preços eram razoáveis. Continuamos pela Rufino Torrico e chegamos a outro shopping. Já estava na hora do almoço e começamos a procurar um lugar para almoçar. Não achamos nada de interessante lá, então decidimos pegar um taxi de volta a Miraflores, onde ficava o nosso hotel, almoçarmos por lá e usar a tarde para conhecer a região. Fomos parar na Trattoria di Mambrino (Calle Manuel Bonilla, 106, Miraflores) e a comida era excelente. A sobremesa então, parecia uma obra de arte. Depois começamos a andar por Miraflores. Há uma loja em Buenos Aires que eu sou fã de carteirinha dela, a Vz. E entrei no site e lá dizia que havia uma Vz em Miraflores. Fomos a procura e infelizmente, no endereço que constava no site, havia uma casa. Continuamos pela rua que estávamos e chegamos a beira da praia. Ou melhor, a quase ela: há um paredão e lá em baixo é a praia. Começamos a andar por lá e ficamos muito impressionados com a conservação, quem dera se no Brasil fosse daquele jeito: existem jardins sem fim, praças com esculturas e tudo muito bem cuidado.
Jardins a beira da praia em Miraflores, Lima |
Ficamos um tempo olhando o pessoal aproveitar o vento para andar de parapente. Muito legal! E finalmente chegamos ao Shopping Mangos. O shopping foi construído em um buraco na encosta então, vindo os jardins e parques na beira do mar, tivemos que descer para entrar no shopping, achamos muito bem bolado e a vista muito bonita. Visitamos várias lojas lá dentro, inclusive a loja da Columbia, e depois tomamos um café no Café Havana. O serviço ficou a desejar, mas a vista compensou. Quando decidimos ir embora, estava morrendo de preguiça de caminhar. O meu marido negociou com o taxista que nos deixou em frente da Falabella perto do hotel. Ainda tinha esperanças de comprar as calças que havia experimentado na Falabella do centro da cidade. Infelizmente, isto não aconteceu, mas acabei comprando casacos da Diadora por aproximadamente R$ 15 reais cada um, em uma promoção relâmpago. Daqui, voltamos para o hotel e fomos dormir.
Dia 31/08/2010 – Lima – São Paulo
Nosso vôo saia às 12h55, então combinamos que sairíamos do hotel por volta de 9h30. Fizemos as malas, o check-out e chamamos o taxi. Demoramos em torno de 30 minutos para chegar ao aeroporto. Fizemos o check-in, pagamos as taxas de embarque (U$ 31 por pessoa) e depois fomos para a sala vip. Lembram-se que no começo contei que tiramos o trecho Lima – São Paulo – Caracas pela classe executiva. Foi aqui que começou nossa mordomia! Tudo muito arrumado, sofás para se sentar, bufê, telefone, internet, banheiro excelente, e até chaises para dormir. O freeshop de Lima é bom, igual ao de Santiago (Aldeasa: http://www.aldeasa.com/Pages/es-es/Prehome.aspx?ci=2). O vôo saiu no horário e foi super tranquilo. Nem tive muita oportunidade de ficar estressada com as turbulências e o meu recente medo de avião. Chegamos em São Paulo por volta de 18h e um fato engraçado foi que ao ligar para o meu irmão em Brasília, ele me contou que meus pais haviam acabado de chegar também em Guarulhos de um vôo vindo de Buenos Aires. Nem acreditei! Liguei para mim mãe e ela disse que estava entrando no embarque nacional. Como nosso próximo vôo também era internacional, não podíamos sair do embarque internacional. Resultado: ficamos uma meia hora conversando através das frestas dos vidros que separam a área de embarque nacional da área de embarque internacional. Foi muita coincidência, principalmente porque era para eles chegarem bem mais cedo em São Paulo! Eles embarcaram e fomos para a sala vip da Tam. Bem menor que a sala vip do aeroporto em Lima, mas boa também, no entanto, lotada. O nosso vôo era 0h30, então, à medida que o tempo foi passando, a sala foi esvaziando. Embarcamos no horário e recebemos travesseiros enormes e edredons. As cadeiras pareciam camas. No entanto, sonhei diversas vezes que o avião estava caindo. E sempre o meu marido acordava e me acalmava.
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